Museu Popular de Rio Claro

MANIFESTO DE FUNDAÇÃO DO MUSEU POPULAR DE RIO CLARO – 2009

 

            A análise desapaixonada e honesta de nossa história político-social revela, sem dúvida, a cada passo, esforços sinceros para a reorganização da vida do país. Em todos os ramos de atividade, sobre tudo da educação e cultura, múltiplas são as tentativas e concepções tendentes a melhorar as nossas condições de existência. Mas não se pode negar que tem sido pouco animador o resultado. A todo esforço seguem-se geralmente o malogro e a decepção. E sempre continuamos no mesmo ambiente de hesitações, experiências e desequilíbrios.

            É evidente que este estado de coisas, não obstante a ilusão de alguns sonhadores de panacéias, não deriva de um fator único, suscetível de exame e solução tranqüilizadora. Vários e diferentes são os fatores, cada qual de maior ou menor efeito corrosivo. Dentre eles, entretanto, destaca-se naturalmente por seu caráter básico, a falta de um grupo organizado da sociedade civil, instruída sob métodos científicos, a par das instituições e conquistas do mundo civilizado, capaz de compreender, antes de agir, o meio social a qual se encontra inserida.

Esse mal não pode ser remediado às pressas, nem admite paliativos desalentadores. Urge encará-lo de frente, com pensamento que vislumbre o futuro, mas que também se preocupe de forma fundante com o presente, e com a preservação de informações e conhecimentos, produzidos neste país e nesta região do presente Estado de São Paulo, fruto da miscigenação ao longo de sua história, em caráter especifico e peculiar diante aos demais domínios do território brasileiro. Preservando-se assim, o fruto desta pequena miscelânea de estilos, culturas e histórias que se formou nessa localidade entre os povos indígenas e suas diversas etnias, tal como os povos africanos vindos das mais diversas localidades deste vasto e grandioso continente, bem como europeus vindos de inúmeras localidades de sua terra mãe, sendo adotados por esta, mesmo que, em alguns casos específicos e isolados, estes não tenham adotado de coração esta pátria. Além dos nativos da terra, africanos e europeus, não se pode descartar a influências de povos vindos de outras partes do globo e com uma cultura religiosa diversa das predominantes no mundo dos colonizadores europeus, como os mulçumanos, judeus e budistas.

            Neste cenário, desagregador e ao mesmo tempo enormemente rico devido a diversidade e a amálgama existe, como elo de união entre estes, surge o Museu Popular de Rio Claro, fruto da organização da sociedade civil, visando a organização de informações relevantes de caráter material e imaterial da população local, além de instrumento motivador da produção de pesquisas sobre tais conhecimentos bem como sobre as condições de existência e os problemas vitais de nossa população, educando, politizando e sendo um espaço sempre aberto, a iniciativas que visem a disseminação e promoção do conhecimento e da sabedoria, formando de forma indireta personalidades capazes de colaborar de forma eficaz e consciente na direção da vida social.

            O Museu Popular de Rio Claro, surge no cenário político e social da cidade de Rio Claro, esta localizada no Estado de São Paulo, em plena data de referência a abolição da escravatura na região, aprovada pela Câmara municipal e promulgada em 05 de fevereiro de 1888, tomando esta como um de seus marcos institucionais, o marco da liberdade de expressão, da organização social, politização, preservação e produção de conhecimento científico e popular bem como a história, cultura e trajetória destes.

            Esta entidade se estabelece com o apoio e estando ligada de forma institucional á tradicional Associação Beneficente, Cultural e Recreativa Tamoio, que a mais de cinqüenta anos vem prestando relevantes serviços à comunidade local, que mais uma vez, atentou-se prestamente as demandas e lacunas apresentadas pela sociedade local, requisitadas organizações e entidades da sociedade civil.

            A Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, trás no seu manifesto de fundação datado de 1933 a seguinte frase “A história universal encerra exemplos de grandes civilizações construídas sem base na instrução popular. Mas não há exemplo de civilização alguma que não tivesse por alicerce elites intelectuais sábia e poderosamente constituídas” nós considerarmos este fator, mas ainda acrescentamos que, após setenta e seis anos, já há tempo suficiente para essa elite entender, que as bases dessa nação é a sua massa, a população que arduamente labuta e se encontra inserida nos sucessivos ciclos econômicos que se sobrepujaram este país, sendo assim, uma classe merecedora de respeito, organização, conhecimento e politização que se refiram ao seu verdadeiro eu, á sua própria identidade construída e constituída, para que assim sendo, propicie o surgimento de uma sociedade mais justa e menos desigual.

 

Rio Claro, 13 de Fevereiro de 2009.